terça-feira, 5 de agosto de 2014

Só a bailarina que não tem!

Existem coisas que a maternidade faz com a mulher, que é impressionante...

Sempre fui fresca para algumas coisas. Sempre achei um horror a emissão de gases da parte do meu pai e dos meus irmãos. Principalmente, quando eles faziam de propósito, só para irritar. Arroto também é outra coisa dispensável em público.

Começo de namoro é aquela coisa. Um “pum” dificilmente é ouvido ou cheirado. Lembro que o Arthur saia de perto, dava uma volta, chegava ser engraçado. Hoje em dia, ele olha pra mim e ri.

Pois bem, com a maternidade teve algumas coisas que eu tive que deixar de lado, por que se tornam tão banais e, acreditem, dignas de serem comemoradas, que o máximo que eu posso fazer é dar risada.

Sempre tive pavor de pegar bebês e ir dar aquela cafungada no cangote gostoso e ele estar cheirando azedinho... Eu nunca troquei uma fralda as minhas sobrinhas. Pelo contrário. Sempre fui a tia da farra, de brincadeiras, de viagem, etc. Mas, pedir para eu trocar fralda, já era demais! Taí a Cinthia e a Margarete que não me deixam mentir. As primeiras fraldas da Angelina com mecônio no hospital foi o Arthur que trocou. E a mulherada do berçário pirava!

Aí fomos pra casa. Aí eu tinha que trocar fralda. Aí... puts, que nojo. Sim, que nojo! Ui! Só que alguém tem que fazer. E se você não tem mais ninguém por perto, mãos à obra! E aí, você descobre que a cada cagada, você vibra com o seu neném! Que você se preocupa se está duro, se está mole, se está pastoso. Identifica a cor pra saber se algo está errado. Aprende algumas coisas de vó, do tipo: verde – é quebrante. Amarelo – o leite tá bom. E por aí vai... O pior nem é a cor, o problema é quando, o bebê se vira e você sem querer, mete a mão na bosta. Bacana...

E os puns que eram motivo de horror? Ahhhhh é tão fofo você estar com o bebê no colo e de repente você ouvir a bufa! Você ainda diz “parabéns bebê!” e dá risada.

O arroto depois da mamada também é um clássico. Meu irmão diz que a Angelina é um ogrinho rsrsrsr ela termina de mamar e dá um arroto de pedreiro, do tipo “mãe, tô satisfeita”, que é o orgulho do pai.

Tirar caca de nariz, algo que você só faz debaixo do chuveiro, quando não tem ninguém olhando é outra coisa que se torna comum, quando o pequeno está um tanto gripado e você precisa puxar a inhaca que está nele. E você, muitas vezes, se pergunta como um bichinho deste tamanho pode ter tanta caca naquele narizinho pequenininho.

Das duas, uma: ou você está pensando, “credo, que post nojento!” ou você está falando, “eu hein, escrever sobre uma coisa tão banal”. Mas, é aí que tá o grande lance da maternagem: coisas banais encantam!

O banho demorado, a refeição bem degustada, o horário do jornal, tudo isso, você passa a dar valor e sentir falta. Mas, por outro lado, tem tanta coisa massa que a maternidade traz pra sua vida, que você acaba dispensando as outras.

Chico Buarque, na “Ciranda da Bailarina” faz essa brincadeira com o que a gente faz, mas que parecem existir pessoas que não fazem de jeito nenhum. Ou você consegue imaginar o seu ídolo saindo correndo com uma potencial dor de barriga? Duvido que a Sandy arrota! Cauã Reymond tirando caca do nariz? Capaz!

Definitivamente, por mais que o ser humano, seja cheio de manias e bons costumes, todo homem coça o saco quando (ele acha que) ninguém está vendo. E toda mulher, quando está com o cotovelo cinzento, passa o dedo na língua e esfrega no cotovelo até achar um creme hidratante. E você mãe, vai vibrar ou se preocupar com o estado do cocô do seu bebê, a cada troca de fralda.


Ciranda da Bailarina
Chico Buarque

Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Verruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem

Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem

Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem

Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem

O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho*
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem

Procurando bem
Todo mundo tem...


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